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POR QUE USAMOS “CUÍR” – AFRONTOSAS

POR QUE USAMOS “CUÍR”

Na nossa prática investigativa tem sido útil compreender p neologismo “cuír” e sua posterior conceitualização. O conceito ajuda-nos a estabelecer maior sentido para novas situações que vão surgindo à medida que a sociedade vai se alterando. No nosso caso, novas categorias têm surtido um efeito positivo na consecução dos nossos objetivos enquanto coletivo artístico.

A sistematização do pensamento a partir do uso de ferramentas analíticas no campo da arte se caracteriza também pela busca de uma autonomia criativa em relação às estéticas europeias de produção. Nesse sentido, a investigação passa a ser para nós um dispositivo de decolonialidade, ou seja, um instrumento metodológico capaz de nos empoderar, não só simbolicamente, mas empiricamente na medida em que nos tornamos capazes de elaborar um pensamento novo que, se não se desvencilhar completamente da colonialidade ativa, ao menos se propõe em se opor criticamente aos seus meandros.  

O ecofeminismo, o feminismo negro e a ecologia queer são conceitos que acompanham a nossa trajetória enquanto artistas investigadoras. Do mesmo modo, a filosofia africana e as práticas artísticas afrocentrada complementam esse nosso percurso. 

O neologismo “cuír” é um exemplo dessa nossa tentativa de autonomização das nossas próprias categorias. No Brasil, de onde a maior parte do Afrontosas vem, a palavra cuír tem sido usada como forma de estabelecer uma posição no mundo sobre a resistência decolonial de pessoas lgbtqia+. Uma forma de subverter a palavra “queer” como algo indefinido, esse grande chapéu que serve para tudo, mas que no final continua sem significado. Pessoas estranhas? Pessoas de gênero diverso? E quando falamos de pessoas negras cuír? Cuír é uma manifestação de insurreição contra as tentativas de aprisionamento de pessoas não-hegemônicas dentro de certas categorias. 

Daí deriva o conceito de “cuírlombismo”, que se apresenta como estratégia comunitária. Seu objetivo é construir territórios que dê sentido às práticas artísticas e às leituras interseccionais da negritude. O cuírlombismo providência interferências nos diálogos com artivismo, resistência e performance. Ele fomenta o trabalho coletivo por uma luta antirracista face à invisibilidade de nossos corpos e a falta de representação nos espaços tradicionais da arte, da cultura, da academia, da política e da esfera civil.

Nos nossos projetos, utilizamos o neologismo “cuír” como ponto de partida para o contrastar categorias pré-estabelecidas dentro do campo semântico da palavra “queer”

Invocamos o “cuír” como exercício prático e teórico de questionamento da limitação que as categorias sobre a natureza, a sexualidade, a raça e o gênero estabelecem na auto-determinação de identidades não conformadas.

Utilizamos o “cuír” como forma de estabelecer uma outra posição no mundo sobre a resistência decolonial de pessoas negras lgbtqia+. Cuír é uma manifestação de insurreição contra as tentativas de aprisionamento de pessoas não-hegemônicas. Cuír é do Brasil. É mitologia afro-brasileira. Abriga uma posição de contraste com o normativo. Fora de um contexto eurocentrado (branco-binário), o cuír traduz uma conceituação negro-fundamentada que se alimenta de uma diáspora dissidente-sexual.